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Oceano à deriva

Como a Baixada Santista, no litoral paulista, contribui diariamente para a poluição marinha, perda de ecossistemas e extinção das espécies

Por Camila Oliveira

Foto: Camila Oliveira

Para os resíduos sólidos, portanto, é necessário identificar a origem e o caminho percorrido até chegar ao oceano. Estudos realizados pela Abrelpe e pelo Instituto EcoFaxina, organização não governamental na Baixada Santista, apresentaram três fontes poluidoras na região: as sub-habitações conhecidas como comunidades de palafitas localizadas na área dos manguezais, os canais de drenagem urbana que desembocam na praia e o descarte incorreto por parte da população na areia.

Foto: Camila Oliveira

No Brasil, a população que reside a até 50 quilômetros do litoral é responsável pela produção anual de 70 a 190 mil toneladas de resíduos sólidos que poluem os oceanos, como indicado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Do lixo existente no mar, 80% tem origem terrestre e apenas 20% provém da atividade marítima, com o descarte de resíduos pesqueiros ou de embarcações. 

 

Composta pelos municípios de Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicente, a Baixada Santista concentra 1,85 milhão de habitantes, segundo o IBGE (2018), que produzem lixo diariamente. Estimativas indicam que, em 2016, a região produziu aproximadamente 296 mil toneladas de resíduos recicláveis, 277 mil toneladas de restos de alimentos e 108 mil toneladas de rejeitos, sendo que a coleta seletiva recolhe apenas 1,6% de todo o resíduo gerado. 

 

Por dia, somente a cidade de Santos contribui com 60 toneladas de lixo no mar, sendo que 85% dos materiais são plásticos, segundo estudo da Abrelpe. Pela ação da maré e dos ventos, esses resíduos chegam na areia e lá podem permanecer, tanto em sua forma original quanto degradada. Nas ações de limpeza de praia, realizadas pelo Instituto Mar Azul, constatou-se que os componentes plásticos representavam 48% do microlixo, partículas degradadas de resíduos, encontrado. Sim, aquele mesmo plástico que demora cerca de 400 anos para se decompor na natureza.

 

E não é só lixo sólido. A região também é conhecida pelo despejo do esgoto doméstico da Ilha de São Vicente na Baía de Santos, apenas a oito metros de distância do continente. O emissário submarino é responsável pelo lançamento de sete mil litros de efluentes por segundo, de acordo com o Ecosan, projeto do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo de estudo das águas da Baixada Santista. O alto volume de despejo torna o tratamento de esgoto ineficaz e acontece a contaminação das águas. Diversos tipos de micro-organismos, substâncias e até resíduos industriais passam a fazer parte daquele ecossistema. 

 

O entra e sai de navios, devido à cidade ser portuária, também pode apresentar consequências.  Neste ano, no dia 27 de julho, foram identificados destroços de um navio encalhado na praia do Embaré. Acredita-se que a estrutura, de quase 50 metros de madeira e metal, seja de uma embarcação alemã encalhada em 1890. 

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As palafitas

Construídas por hastes de madeira e pneus, essas sub-habitações se encontram na área de manguezal, um ecossistema entre água e terra essencial para a vida no mar. No município, são oito comunidades que somam cerca de 19 mil habitantes, segundo o IBGE. Somente o Dique Vila Gilda, considerada por pesquisadores a maior favela de palafitas do país, possui, em média, 10 mil pessoas. 

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A coleta seletiva chega para essa parte da população, mas não é eficaz. São colocadas lixeiras nas vias de entrada do aglomerado e para muitos dos habitantes é incômodo o caminho a ser percorrido para fazer o descarte ou, quando o fazem, o lixo transborda e acaba no ambiente novamente. Por dia, estima-se que sejam despejadas no mangue 20 toneladas de resíduos que poderiam ser reciclados, sendo que metade deles são de plástico.  “Muitas pessoas já lidam dessa forma e falam: joga na maré que a maré é o lixeiro”, explica o diretor-presidente do Instituto EcoFaxina, William Rodriguez.

 

Em uma das ações de limpeza, realizada pelo Instituto EcoFaxina no manguezal próximo ao Jardim São Manoel, foram encontrados materiais como plástico (60%), isopor (30,5%), madeira (2,6%), borracha (1,5%), vidro (0,8%), tecido (0,3%) e metal (0,2%). A grande quantidade de despejos levou à destruição das últimas áreas remanescentes do ecossistema na região insular de Santos, como levantado pela Abrelpe. William acredita que as moradias interferem diretamente na destruição do ambiente e depois na geração de esgoto in natura e lixo: “A presença de palafitas significa que a mata de mangue não existe mais”.

 

Os resíduos que não são retirados por ações de limpeza chegam ao mar e, pela ação natural do ecossistema, na praia. Em uma caminhada pela areia é possível perceber lixos característicos de uso doméstico como embalagens de comida, corantes para cabelo, produtos de limpeza e até restos de entulho. “Eu até costumo dizer que a gente vê mais produtos que um hipermercado”, conta William.

 

O saneamento básico não existe. Tudo que é produzido nas residências é despejado diretamente no mangue. Sem nenhum tratamento químico para bactérias, os dejetos permanecem à mercê da maré. Se está baixa, eles são depositados nos sedimentos e, quando ela sobe, espalha-se.

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Foto: Camila Oliveira

Como é viver assim?

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Os canais de drenagem urbana

Fraldas, televisores, garrafas PET e latas de alumínio são apenas alguns dos resíduos encontrados nos canais de drenagem urbana na cidade de Santos. Ao todo são sete canais que desembocam nas praias e ficam responsáveis por drenar as águas pluviais para o mar. Em estudo realizado no canal da bacia do Mercado de Santos, identificou-se que as águas do local apresentam alta carga tóxica e microbiológica, em discordância dos parâmetros de qualidade estabelecidos.

 

Seis desses canais apresentam comportas fechadas, localizadas na praia, para que os efluentes provindos da cidade passem pela Estação de Pré-Condicionamento de Esgotos (EPC). Antes de serem despejados no mar pelo emissário submarino, é feita a retirada de resíduos sólidos e a aplicação de tratamento para combater bactérias.

 

No período de chuvas, os canais são abertos e o lixo chega no mar sem nenhum tipo de intervenção. Porém, a época de baixa pluviosidade apresenta maior concentração de contaminantes nos canais em decorrência da própria falta de chuva, que do contrário provocaria uma possível diluição de águas no local. Sendo assim, ambos os períodos devem ser analisados em relação à quantidade de componentes presentes. 

 

O Instituto Mar Azul, organização não governamental de combate ao lixo do mar da Baixada Santista, foi criado após um período de alta pluviosidade. Um de seus fundadores, Marcos Pasco Antônio, foi internado com uma forte infecção decorrente da presença de sujeira no mar após a abertura dos canais. “Um problema impulsionou a gente ir mais para frente”, explica o presidente do Instituto, Hailton Santos.

Foto: Camila Oliveira

Lixo na areia

Dados da Prefeitura Municipal de Santos revelam que, todos os dias, são retiradas de 50 a 60 toneladas de resíduos sólidos da areia da praia. Nesses resíduos estão aqueles que vieram pela ação da maré, mas também do descarte inadequado dos frequentadores da região.

 

Apenas a bituca de cigarro, de acordo com o Instituto Mar Azul, representa quase 40% do lixo encontrado na região. Já o plástico, em estudo de caso feito pela Abrelpe em 2017, apresentou diferentes quantidades. Em Aparecida, 58,9% do total encontrado é resultado de resíduos plásticos; 58,1% na Ponta da Praia; 53,6% em Gonzaga; 49,3% em Boqueirão e Embaré; 49% em Gonzaga e 48,9% em José Menino. 


Seguindo os conceitos do Clean Coast Index, ferramenta desenvolvida para avaliar a limpeza da costa, a Abrelpe realizou uma pesquisa para determinar a qualidade das praias em Santos. A praia de Aparecida foi classificada como suja devido à alta quantidade de plástico e isopor no ambiente. Outras praias como Embaré e Ponta da Praia também foram classificadas como sujas pelo Índice Geral, desenvolvido pela Abrelpe, que media o total de itens coletados pela área de limpeza.

Emissário submarino

“O emissário aqui é como se a gente estivesse lançando no mar um esgoto com um tratamento bem básico”, explica a oceanógrafa do Instituto Mar Azul, Maria Fernanda Palanch. É preciso considerar os impactos ambientais causados pela emissão de efluentes domésticos no oceano. Em estudo, foi constatado que o lançamento de poluentes contribuiu para a contaminação do local, já que a baía apresenta uma tendência de acumulação nos sedimentos e nos organismos aquáticos. 

 

De acordo com a Ecosan, o canal do estuário está ligado à baía do manguezal, assim, a poluição lançada nesse meio também impede que o ecossistema sirva como um berçário para diversas espécies da região. O que sai do emissário não é diluído pelo oceano devido à formação de uma barreira de água que retém os sedimentos. O aumento dessa matéria orgânica faz com que 43% da área de fundo da região seja lodo, que absorve o que estiver na água. Ainda mais, também ocorre o despejo de efluentes químicos e hospitalares, que facilitam a contaminação do ambiente. 

 

Em estudo realizado em 2014, coordenado pelo ecotoxicologista e professor, Camilo Seabra, foi encontrado que há 100 vezes mais cocaína no mar de Santos do que na Baía de São Francisco, nos Estados Unidos. A pesquisa também indicou altas concentrações de produtos farmacêuticos como atenolol, paracetamol, cafeína, losartana, valsartana, diclofenaco e ibuprofeno. 

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Ilustração: Antônia Martins

Devido à alta concentração de nutrientes no local, a Baía de Santos apresenta grande potencial de desenvolver condições eutróficas. O que poderia levar à redução de oxigênio na água, morte de peixes, alteração no pH da água, aumento de toxinas prejudiciais ao homem no ambiente, liberação de gases e, consequentemente, comprometimento da área para banho.

Por que oceanos e mangues devem ser preservados?

Para a pesquisadora Aruanã Manzano, a poluição plástica da cidade é decorrente da intensa urbanização e industrialização. Estima-se, segundo relatório feito pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), que 95% da poluição nos oceanos provém principalmente de dez rios.

 

Em Santos, de acordo com o Instituto EcoFaxina, três dos maiores sistemas manguezais estão localizados no rio Itapanhaú, no Canal de Bertioga e na foz do rio Itanhaém. Portanto, a intensa ocupação e degradação do local inviabilizou os rios e mangues de efetuarem seu papel para o ecossistema.

 

Os mangues são essenciais para a vida nos oceanos porque são responsáveis por melhorar a qualidade da água do mar, reter sedimentos provenientes dos rios e regular a questão da balneabilidade da água. Em Santos, especificamente, ele influencia diretamente no regime de marés por fazer o escoamento da água em regiões alagáveis e, também, por fazer a depuração da matéria orgânica vinda do estuário. “O manguezal tem uma importância grande aqui na região e deve ser preservado, principalmente nas regiões de preservação permanente”, lembra William Rodriguez.

 

A biodiversidade depende do mangue. Diversas espécies de peixes, moluscos e crustáceos utilizam o ecossistema para reprodução. Nele, são produzidos mais de 95% dos alimentos que o homem captura no oceano, de acordo com Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo (USP).

O mangue é o berço do mar. E, durante muitos anos, foi esquecido.

Marcio Gonçalves, secretário do Meio Ambiente de Santos

Com a presença de resíduos, as espécies são ameaçadas. Para Maria Fernanda Palanch, colônias de pescadores podem ser impactadas pela falta de robalo, camarão e caranguejo, típicos da região. E, uma vez descartado no mangue e, se não ficar nas encostas do estuário, o lixo vai parar no mar.

 

Segundo a Organização das Nações Unidas, os oceanos produzem quase todo o oxigênio que respiramos, ajudam a regular o clima, processar nutrientes e são essenciais para o futuro do planeta, além de oferecer recursos naturais que alimentam pessoas e empregos. Ele gera benefícios tão importantes como permitir as condições da vida na Terra. "De todos os serviços prestados da natureza para a sociedade, 60% basicamente derivam dos oceanos e das regiões costeiras", explica o professor do Instituto Oceanográfico da USP, Alexander Turra. 

 

Mesmo assim, o mar e toda a sua biodiversidade estão em perigo. A presença de plástico nos oceanos mata mais de um milhão de aves marinhas e cerca de 100 mil mamíferos por ano, como indicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

“O mar não está para peixe”

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Foto: Camila Oliveira

Um estudo publicado pela Ellen Macarthur Foundation, em 2014, afirmou que, se até 2050 a situação do lixo no mar não mudar, será possível ter mais plástico do que peixe, em peso, no oceano. Isso porque, uma vez que os resíduos passam a fazer parte daquele ambiente, eles interferem na vida daqueles que o habitam. 

 

Uma das principais formas de contaminação da vida marinha é por meio da ingestão. O lixo pode ter diferentes formatos ou ser de qualquer material. Ao ser consumido por um animal, entra em sua cadeia alimentar e ocorre uma transmissão de componentes para todos aqueles envolvidos naquele ciclo.

 

As partículas de plástico menores que cinco milímetros, conhecidas como microplásticos, por exemplo, já fazem parte da alimentação de muitos animais de base da cadeia alimentar, peixes e até seus predadores. Esses componentes podem ser provenientes da degradação de resíduos maiores no oceano após a ação do vento, da luz do sol e das ondas. Há também aqueles que já são fabricados pequenos e se perdem no ambiente, como pellets, esfoliantes ou glitters

 

E não estão somente na água. Um estudo liderado por Alexander Turra, em 2007, encontrou pellets plásticos a até dois metros de profundidade nas praias de Santos. "A superfície conta uma história muito simples e parcial do que está acontecendo". O professor considera que a análise do topo do sedimento apenas mostra 5% da quantidade total de microplástico no ambiente. 


A World Wild Fund For Nature estima que mais de 240 espécies marinhas já estão sujeitas a ingestão de plásticos. Na Baixada Santista, pesquisas realizadas pelo Instituto Biopesca mostraram que 80% das tartarugas marinhas resgatadas continham plástico ou outros materiais no seu estômago, esôfago ou intestino. O Instituto, conhecido pelo atendimento de animais resgatados na região, também notou que todos os animais que passaram por necropsia apresentavam resíduos sólidos no trato digestório. Em junho, um albatroz resgatado havia consumido um grande pedaço de uma embalagem de hambúrguer.

É como se os microplásticos fossem assassinos silenciosos.

Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da USP

Ao ser consumida, a partícula entra no tubo digestivo dos animais, o que pode levar a uma série de problemas. O principal efeito do consumo de itens plásticos é que tais componentes fazem com que o organismo não sinta fome e que não sinta a necessidade de comer.

 

A falta de alimento prejudica o crescimento, a reprodução e a fuga de predadores, o que eventualmente leva essas espécies à morte. Se a partícula for pontiaguda, ela pode furar o tubo digestivo do organismo, causando lesões e levando ao óbito, em alguns casos. Pesquisas realizadas com mexilhões Perna perna, coletados na região de Santos, mostraram que a presença dos microplásticos no organismo levaram a uma série de danos no seu DNA e no aumento da concentração de proteínas de estresse. 

 

Ao contrário do que se pensa, o problema não é a acumulação do plástico pela cadeia alimentar. Até porque, após duas semanas no tubo digestivo, esse material é excretado para o ambiente. A questão está na capacidade do objeto de concentrar poluentes e metais tóxicos que não são descartados pela digestão e permanecem no animal. Assim, produtos químicos persistentes no ambiente como o benzeno, o naftaleno ou o benzopireno passam a fazer parte da cadeia alimentar daquele ecossistema. 

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Ilustração: Antônia Martins

“O plástico é perigoso porque a gente não tem ideia do que ele carrega”, conta Maria Fernanda Palanch. O componente tem um potencial agravante pois ocorre uma transferência de elementos poluentes permanentes na cadeia alimentar, os quais podem se acumular na musculatura de cada animal e chegar ao homem pela alimentação. 

 

Para os animais, a presença de metais na cadeia alimentar pode significar uma desregularização das suas atividades enzimáticas. Conhecidos como não essenciais, que não têm serventia para o animal, eles passam a competir com elementos essenciais para o funcionamento do organismo.

 

O mercúrio, muito descartado em efluentes industriais pode, por exemplo, afetar na regulação osmótica do peixe e perturbar a organização das células, o que leva ao óbito do animal. Em estudo realizado pela Ecosan com os peixes da região de Santos, foi encontrado um alto teor de alumínio na musculatura dos animais. 

 

“É engraçado como uma coisa tão pequena pode impactar tanto. Quando se pensa em uma rede de pesca, é mais fácil imaginar aquele negócio grande matando organismos, destruindo corais, fazendo uma série de estragos”, comenta Alexander.

Pesca fantasma

Outro fator prejudicial para a vida nos oceanos é a poluição causada por equipamentos pesqueiros descartados incorretamente no mar. De acordo com relatório da World Animal Protection, a prática é conhecida como pesca fantasma, devido à perda de materiais no ambiente, e se faz presente em 70% do litoral brasileiro. Diariamente, 580 kg dessas redes podem acabar nos oceanos. 

 

O mesmo relatório estima que, em um ano, 25 milhões de espécies marinhas na costa podem ter sido impactados pelos petrechos de pesca. Por serem de maior tamanho, esses resíduos causam a morte de inúmeras espécies pelo afogamento, sufocamento, estrangulamento ou por ferimentos. Muitos dos animais ficam presos nessas redes, o que também prejudica a cadeia alimentar. Uma vez que um predador encontra sua presa vulnerável naquele emaranhado, ele vai ao seu encontro e acaba também sendo prejudicado pelo objeto. “É um ciclo de morte”, complementa o pesquisador do Instituto de Pesca, Luiz Casarini. Na Baixada Santista, as espécies mais ameaçadas pela prática são as tainhas e as tartarugas marinhas.

 

Desde 2009, o Instituto de Pesca realiza a busca por materiais pesqueiros perdidos na região de Santos e, até 2019, foram retiradas seis toneladas desses resíduos do mar. De acordo com Casarini, o petrecho fantasma, objeto de pesca perdido, é uma consequência da falta de melhores práticas na atividade pesqueira, maior ocorrência de fenômenos climáticos e do aumento da pesca ilegal, onde são utilizadas ferramentas inadequadas para captura em locais proibidos para a prática. 

 

“Uma rede padrão sempre tem 100 metros de comprimento e pesa em torno de 1 kg no máximo. Agora você imagina uma rede dessa aberta, são 500 metros quadrados. Imagina no oceano. São milhares de redes iguais a essa que os pescadores lançam no mar”. Para Luiz esses estragos são apenas parte do problema já que, pelo oceano funcionar como um tapete, o fundo conta uma história ainda maior de degradação de espécies e ecossistema. 

 

Pelas suas características, os petrechos transportam animais não pertencentes ao ecossistema em questão. Com a entrada e saída de navios no porto de Santos, é comum que espécies invasoras, que não ocorrem na região, se fixem no casco das embarcações e se espalham pelo ambiente. 

 

“Os materiais que ficam perdidos no oceano não têm fronteira geopolítica”, explica Luiz. Uma vez no oceano, se não for retirado, aquele petrecho tem o poder de divagar e impactar espécies em locais variados, não apenas onde foi descartado. Para o pesquisador, a questão não é só ambiental, mas política, já que exige maior cooperação entre governos para incentivar meios de resolver o problema. Por isso, ele investe para que todos os petrechos de pesca sejam rastreáveis, o que facilitará a sua localização para retirada daquele ecossistema. 

 

Pela atividade ser plástico dependente, os materiais representam uma ameaça para a biodiversidade mesmo após a perda de seu formato natural. Com o passar dos anos, aquele resíduo se transformará em microplástico e, como mencionado, impactará mais uma vez o ambiente.

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Ilustração: Antônia Martins

santos é uma baía

O oceano não é capaz de reduzir sozinho a carga tóxica e a contaminação dos efluentes em Santos. Isso porque, por ser uma baía, o ambiente apresenta maior capacidade de concentração das substâncias despejadas, já que não há correntes oceânicas e constante troca de água para diluição. O esgoto e seus componentes, lançados pelo emissário submarino, tendem a ficar acumulados naquela região.

Mais uma vez, a fauna sofre as consequências. Estudos da Ecosan revelaram que os gases liberados pela matéria orgânica revirada prejudicam as rotas migratórias das espécies. Também já foi identificado que as tainhas já não conseguem entrar mais na baía de Santos. O número de espécies predominantes também está em alerta. Enquanto em Cananeia, litoral sul de São Paulo, 80% dos peixes capturados pertencem a oito espécies, em Santos o número de espécies predominantes diminui para apenas três. 

 

O cobre, comumente usado na indústria, apresentou altas concentrações em siris na Baixada Santista, segundo estudo para determinar a contaminação ambiental do Sistema Estuarino de Santos e São Vicente. Também foram indicadas grandes quantidades de níquel no sedimento, um componente utilizado no setor industrial, de transporte e até na indústria bélica. A concentração encontrada estava acima do nível permitido para consumo humano. 

 

E, pelo despejo de fontes difusas, a presença de fármacos e cocaína na água, como apontado pela pesquisa de Camilo Seabra, afeta características biológicas das espécies na região. Já foram observadas desregulações endócrinas, danos de DNA e na membrana de mexilhões presentes em Santos.

 

Para Camilo, esses medicamentos nos organismos atuam da mesma forma que em seres humanos, sendo que as espécies marinhas possuem sistemas biológicos menos complexos para processá-los.

Essas substâncias têm efeitos colaterais também nesses organismos aquáticos, apesar deles serem muito diferentes da gente ou dos roedores com os quais os primeiros estudos foram feitos.

Camilo Seabra, ecotoxicologista e professor

Afeta-se a locomoção, a capacidade de predarem ou escaparem e até a mutação de células, as quais podem levar ao câncer. Para o ecotoxicologista, animais como mexilhões e ostras ajudam os cientistas a contar uma história mais assertiva sobre a contaminação do local. Por serem imóveis e filtradores, eles passam a vida toda em determinado local, não conseguem escapar da poluição e utilizam da água como fonte de alimentação.

 

Porém, por terem uma vida curta, esses animais não ajudam a criar um histórico sobre as toxinas que estiveram presentes no ambiente. O peixe, por sua vez, pode se movimentar, o que dificulta a precisão do local em que ele se contaminou. Há pesquisas em andamento para entender se os peixes de Santos já apresentam as substâncias no seu organismo.

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Diagnóstico para humanos

Além de representar um perigo para a fauna e flora oceânica, o lixo no mar traz impactos para o ser humano. E não só para os moradores da Baixada Santista, mas também para seus frequentadores, já que estão em direto contato com animais, água e areia contaminados. No momento, existem diversos estudos de abrangência mundial para analisar o nível de contágio decorrente das substâncias presentes no oceano. Porém, algumas questões já podem ser discutidas para incentivar melhores práticas no cotidiano.

Segurança alimentar

Antes de tudo: não, você provavelmente não irá comer um peixe que contenha microplástico. No processo de limpar o animal é retirado o tubo digestório, onde fica concentrada a maior quantidade do componente. Os maiores prejudicados pela ingestão das partículas são as aves marinhas, que não fazem essa limpeza e consomem todas as partes do peixe. 

 

Os microplásticos podem fazer parte da alimentação humana devido ao consumo de animais filtradores como mexilhão, ostra e camarão. Estes são mais passíveis de preocupação por serem comidos inteiros, sem nenhum tipo de limpeza do seu tubo digestório. Contudo, ainda não há estudos conclusivos sobre os impactos da presença do componente no organismo do homem. 

 

O que pode afetar diretamente o ser humano é o consumo de animais marinhos contaminados por poluentes bioacomulativos. Em 2001, um estudo realizado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) mostrou que, de cerca de 150 substâncias químicas analisadas na região de Santos, pelo menos seis apareciam em peixes, ostras, mexilhões, siris e caranguejos. 

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Dentre essas substâncias estavam zinco, cobre, níquel, benzopireno, entre outros. Todas elas estavam acima do nível limite de concentração permitido para consumo humano. "Quando você come isso, esse material começa a te causar, dentro do seu organismo, alterações mutagênicas, então ele é cancerígeno", explica o secretário Marcio Gonçalves.  A pesquisa também revelou que a população mais afetada é a que vive próxima ao estuário, o que soma cerca de 25 mil pessoas, e que depende da captura dos animais da região como alimento.

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Saúde pública

Duas em cada três praias na Baixada Santista estão impróprias para banho. Dentre as praias pesquisadas, as sete de Santos foram classificadas como inadequadas para os banhistas. Para determinar a qualidade da água, foi necessário avaliar a quantidade de coliformes fecais em cada praia.

 

O período de chuvas está relacionado a uma maior poluição dos oceanos devido à abertura dos canais, que permitem a transição do lixo e outros detritos até a praia sem qualquer tipo de tratamento. Em uma amostragem mais recente, no período de março deste ano, apenas duas praias foram classificadas como impróprias na região: Ponta da Praia e José Menino. 

 

Os banhistas, ao entrarem nessa água contaminada, podem ficar expostos a bactérias, vírus e protozoários. As doenças mais comuns a serem contraídas são gastroenterite, hepatite A, cólera e febre tifóide. Outros problemas como conjuntivite e otite podem também ser observados, em menor frequência.  

 

Coletas realizadas pelo Instituto Mar Azul apontaram outro elemento que põe em risco a saúde pública do local: pinos usados para consumo de cocaína. Cerca de 50% desses objetos foram encontrados em regiões da praia que a população costuma frequentar à noite.

Foto: Camila Oliveira

Turista atrai lixo

Segundo o Google Hotéis, Santos foi considerado o sexto destino mais desejado por turistas brasileiros para viajar em 2020. A cidade, conhecida pelo maior porto da América Latina, atrai turistas principalmente no verão e sua população flutuante pode chegar a até 1,5 milhão de pessoas. 

 

A poluição, portanto, é desagradável para os olhos e pode até afastar seus visitantes. "O lixo toca muito facilmente as pessoas. Ele é visível, colorido, incômodo", explica Alexander Turra.

Porém, com dados que indicam que 40% dos resíduos encontrados nas areias são de bituca de cigarro, percebe-se uma falta de entendimento da população. Na virada do ano de 2020, foram coletadas 113,5 toneladas de lixo nas areias desde o Emissário até a Ponta da Praia. Em 2016, a quantidade de lixo gerada pela população flutuante atingiu 80.601 toneladas, o correspondente a 12% do total de resíduos da região. 

 

No verão, quando há uma maior concentração de pessoas na região, as condições sanitárias da água pioram pelo aumento da quantidade de esgoto. Também por ser época de chuvas, as bactérias nas águas litorâneas se elevam, o que pode gerar maior probabilidade de contaminação, como apontado pela Cetesb.

Onde está o poder público nessa história?

De acordo com o secretário do Meio Ambiente, Marcio Gonçalves, as ações da Secretaria do Meio Ambiente para amenizar o problema começaram a caminhar há cerca de três anos. Em 2018, foi firmada uma parceria com a Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA) para fazer a retirada de resíduos para que eles passassem por uma análise que ajudasse na identificação de sua origem. Em 2019, o Ministério do Meio Ambiente lançou o programa do Combate ao Lixo no Mar em Santos e nomeou o município como embaixador, replicando a metodologia para outras regiões do país. 

 

Enquanto os resultados desses projetos não chegam, a cidade teve que se basear em algumas ações “midiáticas”, como descrito pelo secretário. Foram instaladas placas, bituqueiras e lixeiras (orgânicas e recicláveis) na orla da praia para conscientizar a população sobre o destino do descarte incorreto. Mutirões de limpeza também foram incentivados, como o Clean Up Day, que convidava pessoas a fazerem a coleta de resíduos na areia. Na praia do Boqueirão, foi instalado o Ecopeixe, uma lixeira educativa em formato de peixe, que recebeu mais de quatro toneladas de resíduos. Outra iniciativa, prometida para ser um sucesso no verão entre os turistas, é o Projeto Areia Limpa. Serão 600 ambulantes percorrendo a faixa de areia com kits eco-friendly que serão dados para os banhistas, enquanto é feito um trabalho de conscientização e recolhimento de materiais não recicláveis.

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O canudo plástico foi banido e a cidade se tornou a primeira do país a tomar essa atitude. Até mesmo, no caso do canudo eciclável, apenas o de origem vegetal é permitido, já que pode ser compostado. Porém, Alexander Turra não acredita que a medida seja eficaz. Para o oceanógrafo, a proibição é uma saída mais fácil do que mexer com o uso de ocupação de terra e implementar condições para mudar a sociedade na perspectiva de economia circular. “Medidas de curto prazo são facilmente recebidas pelas pessoas, mas acabam diluindo a energia e tirando o foco da onde a gente tem que atuar”. 

 

Hailton Santos, presidente do Instituto Mar Azul, também entende que a Prefeitura precisa tomar ações mais pontuais, principalmente na questão do descarte inadequado na faixa de areia. “Existe uma lei que se jogar bituca de cigarro no chão leva multa, mas ela não é aplicada. Quando tiver essa fiscalização, vai poder aplicar a multa e isso depende muito do poder público”.

 

Para o coordenador de políticas públicas na Secretaria do Meio Ambiente, Marcus Neves, falar de mudança de comportamento é complicado e tem que ser feito de forma não convencional, que atinja as pessoas com um viés mais sentimental. “Tem que partir do poder público, não tem que partir da sociedade”, explica, ao mencionar a instalação de projetos como “Perdidos na Infância”, uma exposição fotográfica de Marcos Piffer com brinquedos encontrados pela areia, e o tanque, em formato de baleia, com petrechos de pesca fantasma no Aquário de Santos. O uso visual desses recursos, para o coordenador, é uma estratégia mais humana para inserir o assunto.

Fotos: Camila Oliveira

“Se eles (visitantes) vierem à praia de manhã cedo, às 6h, vão ficar assustados com a quantidade de lixo que é retirado”, explica Marcio Gonçalves. Todos os dias, é feita uma varrição mecânica na areia da praia para retirar o lixo trazido pela maré durante a noite. O lixo continua chegando. E enquanto os grandes projetos governamentais não obtiverem resultados, ele persistirá naquele ambiente até que se decida atuar na fonte.

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“Muitas vezes, as coisas não levam o tempo que a gente espera pela urgência da problemática”, desabafa William Rodriguez. Há 10 anos, o Instituto EcoFaxina tenta contato com a Prefeitura de Santos para apresentar projetos de melhoria na região. Mas a troca de governos e representantes dificulta a aceleração do processo. Hailton Santos compartilha do mesmo sentimento, “o poder público caminha em passo de tartaruga”.

 

Segundo William Rodriguez, o carro chefe do Instituto EcoFaxina para recuperação do mangue será a instalação de Ecobarreiras, no Jardim São Manoel. Em parceria com a Prefeitura, a iniciativa privada e com o apoio acadêmico do Instituto Oceanográfico da USP e da Universidade Santa Cecília, o projeto consiste na construção de uma base operacional onde acontecerá a limpeza e recuperação da área degradada do mangue. 


Para o desenvolvimento da iniciativa, jovens residentes nas comunidades serão treinados sobre a importância ambiental do local e como efetuar a coleta prática dos resíduos. Após esse trabalho manual, os resíduos passarão por uma triagem, na qual aqueles que forem recicláveis serão comercializados. Já o rejeito será recolhido para destinação final apropriada.

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A proposta é que esse trabalho gere renda para esses jovens e que eles se transformem em multiplicadores da consciência ambiental na própria comunidade.

William Rodriguez, diretor-presidente do Instituto EcoFaxina

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Educação ambiental como instrumento de mudança

Em todas as ações realizadas pela Secretaria do Meio Ambiente, pelo Instituto EcoFaxina ou pelo Instituto Mar Azul é possível observar um investimento em comum: o uso da educação ambiental como forma de conscientizar a população e as empresas da região.

 

Para Alexander Turra, é preciso desenvolver uma estratégia de ensino para que as pessoas se sintam como agentes da transformação. “Dar autonomia para que os bairros, as escolas e os municípios busquem soluções”, explica. Mas, em quem se deve apostar para que essa educação seja efetiva?

 

O ideal é que sejam os jovens, já que eles têm a capacidade de dar continuidade para essa mudança cultural. Com o projeto IMA nas escolas, o Instituto Mar Azul apresenta, discute e mostra de forma prática a questão do lixo no mar para estudantes do quinto ao terceiro  ano do ensino médio. São realizados mutirões de limpeza, separação de resíduos coletados, contagem e depois uma discussão na sala de aula para explicar o impacto dos resíduos para o ecossistema. Já para uma abordagem mais crítica e dialética, Alexander aposta na capacitação on-line de 40 horas do tema e seu impacto para professores. 

 

O projeto do Instituto Mar Azul, segundo Hailton Santos, já colhe frutos. No Colégio Moderno, em Santos, alunos do último ano criaram, por conta própria, um grupo de trabalho para conscientização voltado para os mais novos. Nas ações realizadas pelo Instituto, 50% dos participantes eram jovens, crianças e adolescentes. 

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Nos manguezais não é diferente. Sempre que William vai trabalhar na retirada de resíduos da região, as crianças se aproximam e ficam interessadas. “Elas têm um sentimento de pertencimento maior que o adulto”, já que, para ele, as pessoas da comunidade já têm muitos problemas e a questão ambiental fica por último. Já as crianças nadam e brincam ali. O mangue faz parte da história delas. 

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Turista vs santista

Para conscientizar o turista, tanto a Secretaria do Meio Ambiente quanto o Instituto Mar Azul, apostam na estratégia de abordagem na faixa de areia. Para Marcus Neves, muitas vezes um discurso não fundamentado mais prejudica do que ajuda, e é preciso entender como ele vai provocar uma mudança de comportamento no indivíduo. 

 

Marcus percebe a necessidade de adaptação da fala para abordar aqueles que não têm a relação de pertencimento com a praia, já que estão apenas de passagem. “Se eu percebo que ali tem uma mãe, eu vou brincar com essa questão e perguntar se o filho cobra muito o descarte correto”, explica.

 

Pela experiência, ao adotar essa relação mais pessoal, o coordenador percebe uma resposta positiva e começa a criar um vínculo onde ocorre um diálogo entre eles. É preciso ser rápido na mensagem e deixar algo para que eles reflitam. “As pessoas vão para a praia e não estão querendo ter seu tempo tomado por um discurso”, explica.

 

Já para o santista, a abordagem precisa reforçar a relação de cuidado com o ambiente que faz parte da história da sua cidade. A chave está em criar a sensação de civismo, que consiste em deveres individuais importantes para a vida coletiva. “É um tiro no pé que ele tá dando no sentido que (o resíduo) vai voltar como contaminante, prejudicar o cotidiano dele e a renda da cidade”, avalia Marcus. 

 

O Instituto Mar Azul já aborda de uma forma mais curiosa. São feitas diversas perguntas ao frequentador relacionadas ao tipo de resíduo que é levado para consumo na praia e onde ele será descartado. Após essa conversa inicial, os voluntários da organização dialogam com dados sobre o lixo já coletado naquela região como uma forma de conscientizar sobre o resíduo que uma vez já esteve ali. 


“Algumas pessoas falavam que colocavam o lixo no saquinho e deixavam na areia da praia”, explica Hailton. Segundo Marcus, após a implementação das abordagens chegou-se a um aumento de cerca de 20% na coleta de resíduos recicláveis na faixa de areia em comparação ao verão anterior.

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Cientificamente falando...

Por mais que exista importância na conscientização populacional, é preciso olhar o problema de forma analítica. O lixo no mar é uma ameaça frequente, mesmo que inúmeras campanhas para educação ambiental sejam feitas. Por isso, é preciso adotar medidas que atuem diretamente na fonte e tentem resgatar o ecossistema marinho.  

 

Algumas propostas são mais práticas, como a de Camilo Seabra para a questão da poluição proveniente do emissário submarino. Baseado no modelo da Baía de São Francisco, o ecotoxicologista acredita que o tratamento secundário de esgoto diminuiria a concentração de fármacos e outros contaminantes no ambiente. Hoje a cidade de Santos adota somente o tratamento primário, que consiste apenas na retirada mecânica de resíduos sólidos do esgoto. O secundário faz-se necessário, assim, devido a sua capacidade de retirar os nutrientes do efluente, impedindo uma maior concentração na baía, eutrofização da área e impacto na biodiversidade. 

 

Já para o caso dos resíduos sólidos na Baía de Santos, Alexander Turra acredita que a mudança deve ocorrer de forma sistêmica. Sendo assim, quatro estratégias devem ser adotadas: distribuição de renda justa, evitar a ocupação de pessoas em áreas irregulares, ampliar a gestão de lixo e a implementação de uma política nacional de resíduos sólidos. “Eu vejo especialmente que o governo federal pode fazer uma atuação mais integrada com os estados, municípios, ONGs e universidades para que essas ações realmente ocorram e se desdobrem”, comenta. 

 

Alinhado a essa ideia, surge o conceito de economia circular, baseado em reavaliar o uso dos materiais, desde seu propósito de uso até seu descarte. Pensando nisso, além de retirar os resíduos do mar, Luiz Carani oferece a tecnologia para empresas fabricarem um novo produto com os materiais resgatados. Segundo o pesquisador, o plástico é um problema eterno e a melhor solução é adaptá-lo para ser útil novamente. “Não dá para você mandar para Marte ou queimar”, brinca.

 

Nesse modelo, o plástico volta a ser de responsabilidade social, mas com valor ambiental agregado. Os pesquisadores incentivam que esse novo produto conte uma história e até informe o consumidor final sobre os possíveis estragos que ele faria se ainda estivesse no oceano. 

 

Em geral, há uma necessidade de estudar, fiscalizar, realocar e implementar práticas mais assertivas para que a vida no oceano não seja extinta. 

Que as mortes desses animais não sejam em vão.

Luiz Casarini, pesquisador do Instituto de Pesca

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Foto: Camila Oliveira

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